8/06/2007

Desova - II

O ponteiro do marcador de velocidade batia ferozmente nos 180 Km/h. Até as crianças ficaram quietas sentindo minha tensão e medo. Não consegui disfarçar, quem conseguiria? Talvez um esquimó com o coração amaldiçoado pelo frio. Uma vaca aparece do nada a menos de 500 metros, as crianças gritam enquanto os pneus cantam. Vai bater, vai bater. Não, não. Puxo o freio de mão e giro o volante. O tombo é lateral amassando toda a lataria. As crianças gritam, mas estão bem após o susto. O animal pula, muge ameaçadoramente e sai dando pinotes para dentro do pasto. Meu coração dispara, respiro fundo e vou conferir o estrago. As duas portas dos caronas estão travadas, mas isso é nada diante da alegria de estarmos todos sãos e salvos. Ver a morte de perto duas vezes na mesma viagem já era mais que suficiente. Comecei a lembrar de alguns Road Movies meio loucos, como: a morte pede carona e encurralado. Tirei da mente...pensar positivo, pensar positivo. Era isso que precisava agora. Além de tudo, as crianças não poderiam perceber a minha preocupação. Segui em frente e liguei o rádio pra relaxar.Não consegui. Mudei de estação em busca de notícias sobre o crime. Cai num desse programas bizarros, daqueles que se espremerem jorra sangue. Após 10 minutos ouvindo as vozes do submundo, nem uma vírgula sobre cadáveres aos quilos em estrada alguma. Mais 20 minutos e nada de notícia extraordinária. 1 hora depois, chegamos ao hotel fazenda. Despachei as malas e acomodei as crianças. Voltei rápido pro carro e ainda pude ouvir o final do noticiário. De novo, nada sobre o massacre. Talvez, justo na hora de dar entrada no hotel, houve algum comentário, pensei. (continua)